"Um déspota de toga não
é menos ilegítimo que um golpista fardado", diz Saul Leblon,
editorialista da Carta Maior, referindo-se a Joaquim Barbosa
18 de Novembro de 2013 às 10:18
247 - A forma de agir do presidente do Supremo
Tribunal Federal, Joaquim Barbosa, na execução das penas da Ação Penal
470 é "incompatível com o equilíbrio que se espera de uma suprema
corte".
A opinião é de Saul Leblon, editorialista do
site Carta Maior.
Segundo ele, o ministro "é diretamente responsável pela vida do réu
José Genoíno, recém-operado, com saúde abalada, que requer cuidados e já
sofreu dois picos de pressão".
Leia abaixo seu artigo:
Destinos cruzados: a vida de Genoíno e a saúde da democraciaMaturidade não é sinônimo de complacência. Afrontar o despotismo é um predicado intrínseco à vida democrática.
Um déspota de toga não é menos ilegítimo que um golpista fardado.
A justiça que burla as próprias sentenças, mercadejando ações
cuidadosamente dirigidas ao desfrute da emissão conservadora, implode o
alicerce da equidistância republicana que lhe confere o consentimento
legal e a distingue dos linchamentos falangistas.
Joaquim Barbosa age na execução com a mesma destemperança com que se conduziu na relatoria da Ação Penal 470.
A personalidade arestosa que se avoca uma autoridade irretorquível
mancha a toga com a marca da soberba, incompatível com o equilíbrio que
se espera de uma suprema corte.
Desde o início desse processo é nítido o seu propósito de atropelar o
rito, as provas e os autos, em sintonia escabrosa com a sofreguidão
midiática.
Seu desabusado comportamento exalava o enfado de quem já havia
sentenciado os réus, sendo-lhe maçante e ostensivamente desagradável
submeter-se aos procedimentos do Estado de Direito.
O artificioso recurso do domínio do fato, evocado inadequadamente
como uma autorização para condenar sem provas, sintetiza a marca nodosa
de sua relatoria.
A expedição de mandatos de prisão no dia da República e no afogadilho
de servir à grade da TV Globo consumou a natureza viciosa de todo o
enredo.
A exceção do julgamento reafirma-se na contrapartida de uma execução
despótica de sentenças sob o comando atrabiliário de quem não hesita em
colocar vidas em risco se o que conta é servir-se da lei e não servir à
lei.
A lei faculta aos condenados ora detidos o regime semi-aberto.
A pressa univitelina de Barbosa e do sistema midiático atropelou
providências cabíveis para a execução da sentença, transferindo aos
condenados o ônus da inadequação operacional.
Joaquim Barbosa é diretamente responsável pela vida do réu José
Genoíno, recém-operado, com saúde abalada, que requer cuidados e já
sofreu dois picos de pressão em meio ao atabalhoado trâmite de uma
detenção de urgência cinematográfica.
Suponha-se que existisse no comando da frente progressista brasileira
uma personalidade dotada do mesmo jacobinismo colérico exibido pela
toga biliosa.
O PT e as forças democráticas brasileiras, ao contrário, tem dado
provas seguidas de maturidade institucional diante dos sucessivos
atropelos cometidos no julgamento da AP 470.
Maturidade não é sinônimo de complacência.
O PT tem autoridade, portanto, para conclamar partidos aliados,
organizações sociais, sindicatos, lideranças políticas e intelectuais a
uma vigília cívica em defesa do Estado de Direito.
Cumpra-se imediatamente o semi-aberto, com os atenuantes que forem
necessários para assegurar o tratamento de saúde de José Genoíno.
Justificar a violação da lei neste caso, em nome de um igualitarismo
descendente que, finalmente, nivela pobres e ricos no sistema prisional,
é a renúncia à civilização em nome da convergência da barbárie.
Afrontar o despotismo é um predicado intrínseco à vida democrática.
Vista ele uma farda ou se prevaleça de uma toga, não pode ser tolerado.
A sorte de Genoíno, hoje, fundiu-se ao destino brasileiro.
Da sua vida depende a saúde da nossa democracia.
E da saúde da nossa democracia depende a sua vida.