quarta-feira, 19 de maio de 2010

Menina de foto que se tornou símbolo da Guerra do Vietnã reencontra jornalista

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Kim Phuc foge do ataque a bomba em seu vilarejo em 1972   Foto:  Nick Ut/AP

Para Wain, Phuc é hoje uma 'mulher impressionante'

Rebecca Lumb

Da BBC News




Kim Phuc, a menina vietnamita que é vista em uma foto icônica fugindo nua de um ataque a bomba durante a Guerra no Vietnã, reencontrou-se pela primeira vez com Christopher Wain, o correspondente de guerra que ajudou a salvar sua vida há 38 anos.

O reencontro, promovido pela BBC, é tema de um documentário que será transmitido nesta terça-feira pela Rádio 4 da BBC.

O último encontro dos dois tinha sido em 1972, quando o jornalista, na época correspondente da rede de televisão britânica ITN, foi visitar Phuc no hospital.

Ela estava deitada em uma cama, com queimaduras de primeiro grau cobrindo mais de 50% do seu corpo.

As queimaduras foram provocadas por uma bomba lançada sobre o vilarejo onde ela vivia, no que na época se chamava Vietnã do Sul.

História

O ataque aconteceu no dia 8 de junho de 1972. Christopher Wain e sua equipe estavam no Vietnã cobrindo o conflito há sete semanas

"Naquela manhã, chegamos ao vilarejo de Trang Bang, que tinha sido infiltrado pelos vietnamitas do norte dois dias antes. Eles estavam preparados, esperando um contra-ataque", disse Wain.

"No final da manhã, dois bombardeiros vietnamitas começaram a sobrevoar a área."

Muitos dos moradores já tinham procurado abrigo em um templo. Entre eles, a menina Kim Phuc, de nove anos de idade.

"Nós achávamos que ali estaríamos seguros - então vi o avião", conta Phuc. "Chegou tão perto!"

"Ouvi o barulho das bombas e de repente vi o fogo por toda parte, ao meu redor".

"Estava apavorada e corri para fora do fogo. Vi meu irmão e meu primo. Nós continuamos correndo. Minhas roupas foram queimadas pelo fogo."

Wain e sua equipe estavam a 400 metros do ponto onde as quatro bombas de napalm explodiram.

"Houve uma onda de calor, como se alguém tivesse aberto a porta de um forno. Então eu vi Kim e as outras crianças. Elas estavam silenciosas - até que viram os adultos. Então começaram a gritar."

Documento

Naquele dia, um fotógrafo vietnamita, Nick Ut, também estava cobrindo os acontecimentos no Vietnã do Sul.

Quando Kim Phuc corria pela rua, os braços estendidos, gritando por ajuda, Ut tirou o que é hoje uma das mais icônicas imagens da Guerra no Vietnã.

Ela ainda corria quando Wain a parou e começou a jogar água sobre seu corpo, enquanto comandava a equipe a filmar as cenas terríveis.

"Tínhamos pouco filme e meu câmera, Alan Downes, estava preocupado porque eu queria que ele usasse o filme precioso para filmar cenas horríveis demais para ser transmitidas. Minha opinião era que precisávamos mostrar o que estava acontecendo. E a ITN de fato exibiu as imagens."

O fotógrafo Nick Ut levou a menina para o hospital. Pouco depois, fotos e filme foram mostrados em toda a imprensa ocidental.

Como resultado, o mundo inteiro queria saber o que tinha acontecido com a Kim Phuc.

Quando, dias depois, Wain encontrou Phuc no hospital e ouviu da enfermeira que a menina ia morrer no dia seguinte.

Apesar de tudo o que aconteceu com ela, e tudo o que ela passou, ela se tornou uma mulher muito impressionante.

Christopher Wain

Wain decidiu transferir Phuc para um hospital de cirurgia plástica para tentar salvar sua vida. Foram 14 meses de internação e 17 cirurgias, e Phuc sente dores constantes até hoje.

Garota Propaganda

No entanto, a foto que salvou sua vida também lhe custou caro: durante anos, Phuc foi usada por governos, primeiro no Vietnã, depois em Cuba, como um "símbolo da guerra".

Em várias ocasiões, teve de interromper seus estudos de medicina para cumprir deveres como um instrumento de propaganda oficial.

Quando estudava na Universidade de Havana, em Cuba, conheceu o estudante vietnamita Tuan, com quem se casou. Os dois viajaram para a Rússia em lua-de-mel e de lá conseguiram fugir para o Canadá, onde vivem hoje com os dois filhos.

"Eu ouvi rumores de que muitos estudantes cubanos desciam no Canadá na volta de Moscou, quando o avião fazia escala para se reabastecer", disse Phuc. "Fazendo isso, finalmente conquistei minha liberdade."

Hoje, Phuc não se considera mais uma vítima da icônica foto.

"Percebi que agora, em liberdade e vivendo em um país livre, posso assumir o controle da foto", ela diz.

A Fundação Kim Phuc, criada por Phuc, oferece assistência médica e psicológica a crianças que são vítimas da guerra.

'Mulher Impressionante'

O jornalista Chris Wein continuou a trabalhar para a ITN por mais três anos, antes de ser contratado pela BBC.

Ele se aposentou em 1999 e não esperava ver Phuc novamente.

"Na época (o bombardeio em Trang Bang) era apenas mais uma notícia, embora terrível. Foi certamente a coisa mais horrível que já vi", disse Wain.

"Mais tarde, quando o interesse ressurgiu, senti que Kim estava sendo usada. Por isso, dez anos atrás, recusei uma proposta de reencontro com ela no programa de Oprah Winfrey na TV (americana) - parecia exploração."

Hoje, depois de se encontrar com ela, Wain diz que mudou de ideia. Para o jornalista, ela não é mais uma vítima daquela foto.

"Apesar de tudo o que aconteceu com ela, e tudo o que ela passou, ela se tornou uma mulher muito impressionante."

O documentário It's My Story - The Gils in the Picture, apresentado por Chris Wain, pode ser ouvido no site da Rádio 4 da BBC.

A Guerra do Vietnã aconteceu entre 1959 e 1975 envolvendo o Vietnã do Norte, de orientação comunista, o Vietnã do Sul, uma ditadura militar aliada aos Estados Unidos, e também o Laos e o Camboja.

A retirada das tropas americanas do país marcou a derrota dos Estados Unidos e o fim da guerra.

O Vietnã foi reunificado sob regime comunista em 1976.

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