sexta-feira, 3 de janeiro de 2020

Inventaram no Brasil o capitalismo sem risco e agora não sabem como conter o “rentismo”

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Charge do Duke (dukechargista.com.br)
Carlos Newton
O Brasil, por ser o quinto maior país e população, tornou-se uma espécie de piloto de provas do capitalismo internacional. Assim, foi aqui abaixo do Equador que se implantou o falso capitalismo sem risco, alimentado pela prática do rentismo, prevista pelos filósofos Karl Marx e Friederich Engels como uma fase em que o capital se realimenta do próprio capital.
Em seus trabalhos de previsão econômica, há mais de 150 anos, Karl Marx e Friedrich Engels criaram a expressão “rentier” para denominar o capitalista que não investia em produção, apenas se dedicava a especular. Daí se originou a palavra “rentista” em português.
MALES DO “RENTISMO” – Marx e Engels previam que a ascensão do “rentismo” prejudicaria as atividades produtivas do capitalismo. É exatamente o que está acontecendo hoje no Brasil, que desde o governo do sociólogo ex-marxista Fernando Henrique Cardoso — “Esqueçam o que escrevi” — resolveu inventar o capitalismo tropicalista sem risco, que em poucos anos elevou a dívida pública à enésima potência e causou essa crise sem precedentes.
Não dá para acreditar que FHC tenha realmente lido Marx e Engels. Se o fez, não entendeu nada, porque seu procedimento no governo brasileiro veio apenas a confirmar as previsões da “Teoria da mais valia”, escrita em 1863. Não foi por mera coincidência que o Brasil, comprovadamente o país com maior potencial de crescimento econômico no mundo, ficou literalmente quebrado. Podem acreditar que o “rentismo” de FHC foi um dos fatores que nos levou a essa crise.
LUCRO SEM RISCO – O problema do rentismo é que causa um desvirtuamento na principal base do capitalismo, que é o risco contido em todo empreendimento. Com rendimento garantido acima da inflação, criou-se no Brasil o capitalismo sem risco, pois o lucro era certo, bastava fazer a aplicação financeira escolhida, pois quase todas as modalidades tinham lucro assegurado.
O resultado dessa política irresponsável de FHC, mantida nos governos seguintes, foi a disparada na dívida pública, que está encostando em 80% do PIB e tem crescimento garantido até 2023, pelo menos, pois o Ministério da Economia já anunciou que noa próximos três anos não haverá superávit primário, única maneira de diminuir o endividamento.
O mais interessante e surpreendente neste capitalismo experimental praticado no Brasil é que, ao contrário do que se supunha, os principais rentistas não são os banqueiros,
QUEM SÃO OS CREDORES? – Na verdade, os bancos detêm apenas cerca de 22% da dívida pública federal. Os maiores credores estão no grupo que o Tesouro denomina Categoria Previdência (25%) e nos Fundos de Investimento (26%), que representam basicamente pessoas físicas.
Ou seja, esses investidores individuais concentram a maioria absoluta da dívida (cerca de 51%), enquanto investidores estrangeiros respondem por apenas 13% do estoque. Os restantes 14% estão distribuídos entre órgãos do governo, seguradoras e demais credores.
Cai por terra, portanto, o velho mito de que os banqueiros são os grandes exploradores do governo e da sociedade na formação da dívida. Ele realmente são espoliadores, mas desenvolveram outras formas de enriquecimento ilícito.
GUEDES AGIU CERTO – Conforme se constata ao seguir esta linha de raciocínio, o ministro Paulo Guedes agiu acertadamente ao reduzir para 4,5% ao ano a taxa básica de juros. Talvez tenha pensado que, com isso, faria os rentistas despejarem dinheiro na economia, para investir em empresas e produção, criando empregos, distribuindo renda e diminuindo a desigualdade social.
Guedes não contava com o jeitinho brasileiro. Conforme foi baixando os juros, os rentistas correram em massa para a Bolsa de Valores, enquanto os bancos aumentavam expressivamente o número de fundos financeiros baseados nas ações.
Com isso as cotações na Bolsa não param de subir, artificialmente, mas o dinheiro não circula nem cria empregos. É claro que essa farra do boi um dia acaba. Ninguém sabe quando. O que se sabe, com toda certeza, é que essa política econômica maluca nunca foi tentada em país algum.
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P.S.
 – Bolsonaro, é claro, não tem a menor noção do que está acontecendo. Acha sensacional a alta do índice Bovespa. Mas o ministro Guedes certamente deve estar preocupado. Ao que parece, ele estudou Marx e Engels em profundidade, pois costumava citá-los nos artigos semanais que escrevia em O Globo. Assim como Delfim Netto, o ministro Guedes sabe que não existe almoço grátis, e um belo dia alguém vai apresentar a conta da Bovespa ao respeitável público, que sempre sai perdendo quando os governantes se equivocam. (C.N.)

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