quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Já que antecipam


Claudio Weber Abramo
A antecipação da campanha eleitoral presidencial de 2010 não efeta apenas a sucessão de Lula. Implica também a antecipação de todos os demais pleitos que acontecerão no ano que vem: de senadores, deputados federais e estaduais (e distritais, no caso do Distrito Federal) e governadores.Explica-se: os candidatos a presidente precisam arranjar espaços nos palanques regionais. Para que um candidato qualquer se “viabilize” (como se costuma dizer) é preciso ter palanques nos principais estados do Sul/Sudeste e do Nordeste, pelo menos.Não adianta a um candidato ser fortíssimo em São Paulo (o maior colégio eleitoral) caso não disponha de acessos ao eleitorado nordestino.Reciprocamente, um candidato popularíssimo no Nordeste não emplacará no Sul/Sudeste caso não encontre espaços na região.Espaços significam acordos com as forças políticas locais e, devido ao entrechoque dos interesses locais, necessariamente envolvem as chapas legislativas e executivas de todos os partidos que sejam alvo dos avanços sedutores dos candidatos presidenciais.De modo que, enquanto o eventual leitor percorre as presentes maltraçadas, os políticos de modo geral se dedicam freneticamente a negociar em qual mourão de cerca amarrarão os seus respectivos burrinhos.Isso afeta mais diretamente os cargos majoritários (senador e governador), mas tem repercussão sobre os proporcionais (deputados).Tais movimentações negocistas são típicas de um país em que a política passa tão ao largo da população que os seus praticantes não se ocupam minimanente do que o eleitor possa pensar.Não que a negociação pré-eleitoral de apoios deixe de ocorrer em outros países, mas a diferença, no Brasil, é que as decisões partidárias não se enraizam nas tendências das respectivas militâncias — as quais, rigorosamente, não existem. Que “militância” têm o PSDB, o DEM, o PMDB? Só de políticos e, em época de campanha, de cabos eleitorais pagos.(As militâncias existiam no antigo PT, mas seu entusiasmo enfraqueceu claramente a partir do Mensalão. Será curioso verificar o que ocorrerá com ela em 2010; em 2008 já se mostrou desintusiasmada. Mas me desvio.)Como a campanha eleitoral na prática já começou, aqueles que se preocupam com o rumo da política e, mais amplamente, do Brasil, farão bem se também começarem a se mobilizar.Há muitas formas de mobilização política, dependendo dos interesses e das aspirações de cada um e de cada grupo - mas há um tema que tende a equalizar as aspirações de muita gente, a corrupção.Qualquer pessoa que tenha alguma espécie de expectativa em relação ao efeito da política sobre a vida da comunidade concordará (espero) em que não vale a pena eleger gente que tenha passado duvidoso.Ladrões, picaretas, canalhocratas, caçadores de renda não deveriam ter lugar na política.Como o arcabouço legal brasileiro é omisso quanto a isso e, como se isso não bastasse, o sistema judicial do país é disfuncional, só o eleitor pode barrar o caminho desses indivíduos em direção aos cargos eletivos.O eleitor só pode decidir o seu voto com base em informação.Logo, para convencer eleitores a não votarem em gente duvidosa, é preciso usar os mecanismos de comunicação de que se disponha para disseminar informação sobre os políticos.Quanto mais intensivamente essas informações forem veiculadas, maiores serão as chances de que pelo menos alguns dos indivíduos mais duvidosos terão barradas as suas pretensões reeleitorais.Este espaço voltará insistentemente a esse assunto nos meses seguintes, com sistemática menção aos dados sobre políticos presentes no projeto Excelências.Explica-se: trata-se da única fonte existente no Brasil que reúne dados de uma grande variedade de tipos sobre todos os integrantes das principais Casas legislativas brasileiras.Se o sujeito é candidato à reeleição, seu histórico estará lá.Se esse histórico é duvidoso, isso está claramente evidenciado.Convida-se o eventual visitante a usar esse instrumento, que foi concebido e é mantido para isso.
Fonte: Último Segundo
Claudio Weber Abramo é diretor executivo da Transparência Brasil. Bacharel em matemática (USP) e mestre em filosofia da ciência (Unicamp). Antes de juntar-se à Transparência Brasil, sua principal atividade profissional foi na área de comunicação e, nesta, no jornalismo. Organizou o livro A Regra do Jogo, do jornalista Cláudio Abramo, seu pai. Colabora freqüentemente com a imprensa e é autor de artigos em publicações especializadas a respeito do tema da corrupção e seu combate.

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